quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Sobre as mudanças no corpo


Como você já sabe, nosso corpo passará por mudanças enormes e extremas, tanto na gravidez quanto depois dela.

A primeira mudança é sua bunda, que no segundo mês de gravidez dobra de tamanho. Esta mudança vem seguida pelos peitos, que também ganham bem mais volume. Aproveite – é a última vez, em meses (talvez na sua vida toda), que você será gostosa. E com o plus do bundão e dos peitões.

A seguir, começa a parte chata: você perde a cintura. Daí então a barriga começa a crescer e quando você acha que já não há mais espaço para ela crescer, ela cresce mais um pouco. Você já está inevitavelmente andando como um pinguim e se levantando com o auxílio da força dos próprios braços e do marido, sem conseguir contrair os músculos abdominais. No último mês da gestação você incha muito e fica com a impressão que nunca mais será a mesma, mas logo que o bebê nasce aquele inchaço todo se vai. Ufa!

Agora é a hora de encarar o estrago que foi feito. Se você engordou mais que 10 kgs, saiba que terá que lidar com estes kgs extras. A princípio, aceitá-los e então formular um plano para eliminá-los. Demora, viu, não pense que só porque você está amamentando eles irão se esvair assim, magicamente. Eles ficarão acumulados em sua barriga, costas, coxas, bunda e você terá que ter paciência e equilíbrio emocional para encarar o espelho no pós-parto.

Ah, mas agora que o bebê nasceu você está com os peitos dos seus sonhos! Os peitos que você sempre quis! Muito bem, seja racional e pondere. Vamos até o espelho tomar um choque de realidade.

Examine-se da cabeça aos pés: cabelos sujos, oleosos e desgrenhados há 3 dias; olheiras profundas e lábios descorados devido à anemia galopante, à desidratação e às noites mal-dormidas; peitos – ok; barriga saliente, flácida e gelatinosa (aparentemente vai dar um trabalhão para sair daí), dividida ao meio pelo corte da cesárea (se você sofreu uma cesárea), formando assim duas distintas lombadas e a inconfundível linha nigra dando um colorido à tragédia; unhas por fazer e cortadas no toco para não machucar o bebê; uma camada indiscreta de celulite cobrindo o corpo todo, da cabeça aos pés; roupas (do seu marido) com nódoas de leite, xixi e cocô do bebê. E você exultante porque está com peitões? Se seu marido não é do tipo voyeur que se satisfaz só de olhar, isso não vai valer de nada pois ele só terá acesso à estes suculentos mamões ao menos um mês depois do desmame, quando eles ficarão flácidos e pendurados, com aspecto de bexigas de festa que murcharam depois de um dia inteiro cheias. Nada sexy, não é mesmo? Entenda que seus peitos agora pertencem única e exclusivamente ao seu bebê – afinal, depois de serem avidamente sugados o dia inteiro, você só quer lhes dar um descanso e uma dose generosa de pomada de lanolina para que eles se recuperem de tanta chupação. Seu pobre marido não poderá nem mesmo pensar em tocá-los e se o fizer, se assustará com a consistência murcha de um em contraste com a rigidez do outro, o que o fará brochar com certeza. Desista. Seus peitos só servem para serem admirados de longe e para fornecerem leite para sua cria.  

Era melhor ter colocado próteses de silicone, não é mesmo?

Não se preocupe – em um ou dois anos você precisará delas.

Boa sorte!

Sobre os movimentos do bebê


Lá pelo terceiro ou quarto mês, você começa a sentir os movimentos do seu bebê. Começam muito tímidos - a princípio você mal sabe diferenciá-lo dos movimentos de seu intestino com gases. Você só percebe que não são gases porque não antecedem puns. Que bonitinho! É o seu bebê se movendo!

A sensação, nos primeiros meses, é a de que sua barriga é um aquário e seu bebê, um peixinho. Você o sente nadando para lá e para cá, dando piruetas, pinotinhos e cambalhotas. É muito gostoso mesmo no início e se ele fica mais de duas horas sem se mover, você já entra em desespero, cutuca e bate na barriga para provocar movimentos e ter certeza que está tudo bem.

Porém, nos últimos meses, o peixinho evolui para um enorme polvo. O aquário não cresceu o suficiente para abrigar o polvo, que se espreme desesperado dentro de sua barriga, movendo dolorosa e incessantemente os tentáculos – exceto por um que se posicionou há 3 dias embaixo de sua costela, pressionando seu fígado (você nunca mais terá dúvidas de onde fica seu fígado), provocando uma dor lancinante que a impede de virar pro lado, respirar, andar, se sentar ou se deitar. Nas posições restantes você ainda consegue permanecer.

O polvo raramente descansa – ora se espalha no aquário, ora se junta todo num cantinho só, ocasionando o fenômeno “barriga torta”, que dá muita agonia de ver. Quando você se deita, consegue observar bem os tentáculos se batendo dentro de sua barriga – uma visão super alien.

O polvo sofre de soluços e insônia crônicos. Quando ele para de se debater, aparecem os soluços para agitá-lo. Quando você se deita (ou se senta – só assim consegue respirar a essa altura da gestação) tentando dormir, ele começa a festinha. A impressão que dá é que reuniu a turminha (a lula, o tubarão, a baleia e o Bob Esponja) no seu aquário e está dando um churrascão com direito a pagode. Quando ele fica 30 minutos quieto, você comemora, mas passou dos 30 minutos você, é claro, por força do hábito, começa a se preocupar e chega a ir correndo para o PS se queixando que seu bebê está há 2 horas sem se mexer.  Te fazem um ultrassom e lá está ele, tirando um cochilo. Você fica conhecida no PS – é a “mãe neurótica” – e os funcionários a atendem de má vontade. Assim que você sai do ultrassom, seu polvo volta a se mexer, comemorando a trolada que deu na mamãe.

Os movimentos são doloridos e incessantes e são a razão porque as grávidas não tiram a mão da barriga. Elas ficam ali sentindo os movimentos de seu polvinho e tentando contê-los e responder com carícias que acalmem o nervoso molusco. Não funciona, mas elas seguem tentando.

Você também tentará.

Boa sorte!

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Sobre o vazamento de leite


Muito bem, você já superou aquele período dos mamilos estourados e agora acha que vai tudo dar certo com a amamentação. Vai sim, só tem um detalhe: você vai vazar. Isso mesmo, vazar. Você vai sair do chuveiro com os peitos pingando. Quando der a hora de mamar e seu bebê ainda estiver dormindo, você vai começar a pingar leite. Se o bebê acordar chorando, o vazamento aumenta a ponto de se tornar uma goteira. Se o seu bebê começar a mamar naquele peito cheio que agora há pouco estava  gotejando e de repente soltar o bico, coitadinho do bebê: vai tomar um jato de leite no meio da cara. Se ele chorar, então, o jato sai mais forte.

Sim, é isso mesmo: o gotejamento está diretamente relacionado ao estado de espírito do bebê. Se ele choraminga, os peitos pingam. Se ele chora, os peitos derramam. Se ele chora no peito, o peito esguicha. Não sou especialista, não sei explicar se este fenômeno é hormonal ou psicológico. Mas na prática, é assim que acontece.

Agora uma informação que aposto que nenhuma mãe nunca lhe revelou: enquanto o bebê mama num peito, o outro vaza. Você tem que se munir com vários paninhos, fraldinhas, toalhinhas. Se não prestar atenção, enquanto alimenta o bebê com um peito, com o outro está dando-lhe um banho de leite.

Você vai ficar frustrada à noite, ao ouvir o bebê chamar e  perceber que na pressa de saciar sua fome você está deixando um rastro de leite no caminho. Sua cama amanhecerá encharcada.  

Você pode também tirar vantagem deste talento com jogos e brincadeiras divertidas, por exemplo: espirrar leite na cara do marido. Use a criatividade para não se irritar com o vazamento. Se seu marido é daqueles que não acordam com o choro do bebê, divirta-se deixando os peitos pingarem na cara dele enquanto ele ronca.  Pelo menos você se diverte com a situação e não se estressa tanto com este estado de vazamento constante.

Cuidado ao sair na rua - passou um minuto da hora de mamar, pronto: um círculo de leite se forma ao redor de sua aréola. Hora de parar, esteja você onde estiver, para amamentar sua cria, mesmo que ela esteja dormindo. (E tem hora que os pobrezinhos só querem saber é de dormir, não estão nem aí pro seu excesso de leite.) Use um protetor de seios, mas se prepare: custa os olhos da cara; por volta de R$ 13,00 a caixa com 24 unidades. Eu que sou professora e não  sou rica recorro à velha fraldinha e ao protetor de tecido que vem com o sutiã de amamentação.  

Boa sorte!

Sobre a descida do leite


Dois ou três dias após dar a luz, seus peitos ficarão enormes, pesados e duros como pedra. DUROS mesmo! Como duas enormes melancias.

É o que chamam a "descida do leite", quando você para de produzir colostro e começa a produzir leite. Em alguns casos será necessário "ordenhar" (isso mesmo, ordenhar, igual vaca), o que alguns sugerirão que você faça manualmente, outros que você faça utilizando uma máquina de tortura chamada "bombinha". De qualquer jeito, dói pra CARALHO e assim, logo de cara, não costuma sair grande coisa - se sair algo. Fique atenta caso você venha a ter febre e seus peitos começarem também a ficar vermelhos pois isto é sinal de mastite. A solução é botar o bebê pra mamar e fazer massagens. Se tudo correr normalmente, em alguns dias com o bebê mamando sua produção de leite se ajusta à demanda exigida pelo bebê.

Boa sorte!

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Sobre as feridas e rachaduras nos mamilos


Na primeira semana, os bicos dos seus peitos ganharão feridas e rachaduras profundamente dolorosas, que formarão casquinhas que cicatrizarão e darão lugar a novas feridas e casquinhas, que você verá penduradas por um fio na boquinha do bebê. Calma! Não puxe! Doerá mais. Deixe-as cicatrizarem por si. Se possível evite usar qualquer tipo de roupa, deixe os peitos ao ar livre para cicatrizarem mais rápido e os bicos não grudarem na roupa - o que proporcionará uma experiência desagradável na hora de tirar a roupa, pois ela ficará grudada nos mamilos e ao ser puxada, levará junto consigo um pedaço da casquinha que estava se formando, comprometendo todo o processo de cicatrização. É possível que estas feridas sangrem a ponto de você notar a presença de laivos de sangue no cocô do bebê. É também muito comum que você amamente aos prantos. Não se desespere. Utilize pomadas de lanolina para prevenção e nas feridas formadas, pomada para assadura (bepantol, sugestão da Renata Ayrosa, deu muito certo pra mim), que acelera o processo de cicatrização. Mas atenção: a lanolina não precisa mas a pomada para assadura deve ser removida antes de amamentar o bebê.

Para que você tenha uma pequena e sutil amostra do que se sente, esfregue os bicos dos peitos no asfalto quente por meia hora e logo após este procedimento, aplique a pressão de um pregador de roupas em cada mamilo. Isto lhe dará uma prévia da sensação das mamadas da primeira semana.

Mas não desista, seja persistente: seguindo todas as recomendações, este martírio acabará em uma semana, e aí sim "amamentar é lindo, puro prazer, estabelece vínculo afetivo entre a mãe e o bebê, acelera a perda de peso, é o melhor para o seu bebê", etc.


Boa sorte!

Sobre o blog


Mesmo após uma ociosa gravidez de risco com direito a repouso em casa durante a qual procurei me informar o máximo possível em livros, sites, blogs e grupos fechados no Facebook, fui surpreendida com situações inesperadas e inusitadas que todas as grávidas e mamães certamente experimentam mas não compartilham, mantendo, assim, a associação da gravidez e da maternidade somente a sensações de enlevo, magnitude, plenitude, prazer e deleite. Há sim esse lado - o lado A. 

Então, para vocês mulheres grávidas ou que planejam engravidar, postarei aqui, tão regularmente quanto minha bebê permitir, uma série exclusiva revelando todas as verdades que ninguém nos conta sobre gravidez e maternidade - o obscuro e secreto LADO B.