Sobre os movimentos do bebê
Lá pelo terceiro ou quarto mês, você começa a sentir os
movimentos do seu bebê. Começam muito tímidos - a princípio você mal sabe
diferenciá-lo dos movimentos de seu intestino com gases. Você só percebe que não
são gases porque não antecedem puns. Que bonitinho! É o seu bebê se movendo!
A sensação, nos primeiros meses, é a de que sua barriga é um
aquário e seu bebê, um peixinho. Você o sente nadando para lá e para cá, dando
piruetas, pinotinhos e cambalhotas. É muito gostoso mesmo no início e se ele
fica mais de duas horas sem se mover, você já entra em desespero, cutuca e bate
na barriga para provocar movimentos e ter certeza que está tudo bem.
Porém, nos últimos meses, o peixinho evolui para um enorme
polvo. O aquário não cresceu o suficiente para abrigar o polvo, que se espreme
desesperado dentro de sua barriga, movendo dolorosa e incessantemente os
tentáculos – exceto por um que se posicionou há 3 dias embaixo de sua costela,
pressionando seu fígado (você nunca mais terá dúvidas de onde fica seu fígado),
provocando uma dor lancinante que a impede de virar pro lado, respirar, andar,
se sentar ou se deitar. Nas posições restantes você ainda consegue permanecer.
O polvo raramente descansa – ora se espalha no aquário, ora se
junta todo num cantinho só, ocasionando o fenômeno “barriga torta”, que dá
muita agonia de ver. Quando você se deita, consegue observar bem os tentáculos
se batendo dentro de sua barriga – uma visão super alien.
O polvo sofre de soluços e insônia crônicos. Quando ele para
de se debater, aparecem os soluços para agitá-lo. Quando você se deita (ou se
senta – só assim consegue respirar a essa altura da gestação) tentando dormir,
ele começa a festinha. A impressão que dá é que reuniu a turminha (a lula, o
tubarão, a baleia e o Bob Esponja) no seu aquário e está dando um churrascão
com direito a pagode. Quando ele fica 30 minutos quieto, você comemora, mas passou
dos 30 minutos você, é claro, por força do hábito, começa a se preocupar e
chega a ir correndo para o PS se queixando que seu bebê está há 2 horas sem se
mexer. Te fazem um ultrassom e lá está
ele, tirando um cochilo. Você fica conhecida no PS – é a “mãe neurótica” – e os
funcionários a atendem de má vontade. Assim que você sai do ultrassom, seu
polvo volta a se mexer, comemorando a trolada que deu na mamãe.
Os movimentos são doloridos e incessantes e são a razão
porque as grávidas não tiram a mão da barriga. Elas ficam ali sentindo os
movimentos de seu polvinho e tentando contê-los e responder com carícias que acalmem o
nervoso molusco. Não funciona, mas elas seguem tentando.
Você também tentará.
Boa sorte!
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