quarta-feira, 11 de maio de 2016

Para pensar antes de ser mãe: você escolheria ter filhos, ainda que fosse solteira?


Meninas, estou de volta. A cada vez que me ocorre uma questão assim urgente, sombria, pouco ou nada exposta e muito polêmica a respeito da maternidade, me dá a sensação de dever de vir aqui escrever, de alertá-las. Mas tenho tido preguiça, pouco tempo, pouca prioridade para o blog, enfim... Acho que porque muitas das questões já estão resolvidas para mim. Mas aí percebo que é egoísmo meu deixar que vocês descubram sozinhas, e que agir assim vai contra minha proposta inicial. Então vamos lá:

Essa é uma questão para antes de engravidar: ter filhos é SEU sonho? Você é capaz de levá-lo adiante caso venha a se separar de seu parceiro? Ou seu sonho é ter uma FAMÍLIA? Ou ter filhos é o sonho do seu PARCEIRO e você está embarcando nessa por amor a ele? Essa questão é crucial, e eu explico o porquê: se antes dos filhos você e eu e todo mundo sabemos que há sempre o risco, ainda que pequeno, da sua relação amorosa se acabar, tenha consciência que este risco dobra, triplica, se multiplica com uma gravidez e a chegada de um filho. Sim, poucos pais e mães passam por esta experiência revolucionária sem uma crise conjugal. Contornar a crise – ou aceitá-la – é uma possibilidade, mas não é todo mundo que está disposto a isso, e muitos(as), realmente, com toda a  razão. Acontece que, se de um lado há uma mãe sofrendo com as massivas e oscilantes descargas de hormônios que causam bruscas variações de humor, com ataques de fúria e ternura, crises inexplicáveis de choro, peso imensurável da responsabilidade de cuidar e alimentar um ser vivo que ela ama e por quem seria capaz de doar os dois rins, repentes instintivos, selvagens e incontroláveis de superproteção, privação extrema de sono (que nunca deve ser subestimada), dificuldade para lidar consigo mesma, com o corpo pós-parto, com as dores e dificuldades da amamentação, com a própria mudança de personalidade, ou seja, há uma mãe transbordando de amor e, por que não dizer?, dúvidas, confusão, pressão e sofrimento reais, do outro lado há um pai que não passou nem passa por todas as fases – que funcionam como um preparo gradual – da gravidez, nem por mudanças corporais, nem hormonais, nem tanta privação de sono, nem a responsabilidade de amamentar, nem a pressão de tias, sogras, vizinhas e afins e que está apenas deslumbrado com a novidade de ser pai – novidade esta que chegou para ele do dia para a noite, como um presente, sem dor, nem sacrifício  -  e que fica verdadeiramente ASSUSTADO E PERDIDO ante aquela entidade absolutamente neurótica, extremamente sensível, em diversos casos, grossa e impaciente, mal-cuidada e chorona que incorporou sua esposa. Além de tudo, ele se sente totalmente preterido e solitário, solidão que também acomete a esposa nas inúmeras e infindáveis noites de sono perdido ou mal-dormido, a embalar e alimentar a cria. Conversar? Dialogar? Olha, parece uma ótima ideia, porém impraticável. O primeiro ano muito provavelmente será de uma dura e dolorosa distância entre os cônjuges. Momentos raros de privacidade e intimidade terão como assunto principal as cólicas, os cocôs, as febres, os vômitos e as gracinhas do bebê.

Resumindo: o risco desta crise se estender, se intensificar e se tornar intolerável é bem grande. E aí, mãe? Você está preparada para ser uma mãe só, sem o apoio e a cooperação de um companheiro? Entenda que isso significa alguns anos de dedicação integral à apenas sua cria e renúncia praticamente total à sua pessoa. Academia, aulas de dança, inglês, guitarra, cineminha, cervejinha ou cafezinho com as amigas, baladas, livros, paz, sossego, manicure, pedicure, depilação, sair para namorar, enfim... tudo isso será muito difícil de praticar (já o é tendo a cooperação do companheiro). Algumas mães têm a sorte de ter tias, mães, avós muito participativas. Já outras não contam com esta rede de apoio. É bom lembrar que ser "mãe solteira" (não gosto do termo, mas o estou empregando aqui exatamente por toda a carga de preconceito e sexismo que ele carrega) é bem diferente de ser "pai solteiro". Não vou nem entrar nesse mérito. Há muito que se considerar aí, desde o papel da mãe e do pai na visão da sociedade, passando pelo papel que ambos se dispõem a exercer na criação dos filhos, até o próprio sistema, que não favorece e não incentiva uma participação mais envolvida e presente do pai, e isso desde o nascimento (vide as regras da licença paternidade). Até a licença maternidade já é bem insuficiente, mas é com isso que temos que trabalhar, não é?

Bem, amiga, se sua resposta for “não, não banco ser mãe sozinha, não quero correr esse risco, não tenho condições psicológicas para isso, não estou preparada” (não vou nem entrar na questão financeira, sugiro que você tome a precaução de considerá-la também, sem subestimá-la. Ela é bem relevante), repense sua decisão de ter filhos. Isso é muito sério e muito real. Agora, se sua resposta for: “sempre foi meu sonho ser mãe, minha vida só será completa depois que eu tiver filho(s)”, se jogue! Essa certeza basta para que você viva a maternidade com segurança e total entrega, como ela exige.

Confesso que me vi me questionando tudo isso umas semanas atrás, ou seja, tarde demais, e me bateu um desespero pelo risco que eu corri tão inadvertidamente... Minha resposta teria sido “não, não tenho condições, não estou ainda preparada” e eu me dei conta de que seria, sim, feliz pela felicidade inevitável que ser mãe confere. Mas seria também absolutamente miserável pela ausência de tempo para mim, porque eu não sei lidar com isso. Dividir as obrigações com meu marido, que é o melhor pai que minha filha poderia ter, absolutamente e irrestritamente participativo e envolvido, me dá segurança e tranquilidade de separar um tempo para ser eu mesma, não mãe da Sofia, mas Daniela, mulher, pessoa, ser com necessidades e desejos. E isso, para mim, é primordial para uma existência equilibrada.

Às mães que encaram a dura tarefa de criar filho(s) praticamente sozinhas, meu respeito e minha empatia. Se você conhece e se importa com alguma, seja um(a) amigo(a) de verdade e proporcione a esta mãe um momento para si. Fique com a(s) criança(s) para que ela possa se encontrar ao menos por algumas horas, se lembrar do que gosta de fazer só, seja fazer as unhas, ler um livro ou simplesmente descansar. Elas não abrem mão de tudo isso e muito mais por serem heroínas ou supermães. Elas o fazem porque são mães e não têm outra opção. E isso é ainda mais doloroso do que se este gesto fosse simplesmente uma inclinação admirável e poderosa de heroísmo, dedicação e abnegação por parte delas.


Desculpem a franqueza, a profundidade e o choque deste post tão tardio e tão corta-romance. Pouco se fala, mas você, eu, todas nós nunca ouvimos ou acompanhamos essa história antes? É ingênuo e arrogante pensar que “isto não vai acontecer comigo”. Não era o plano de ninguém com quem aconteceu. 

À todos os casais que contornam ou mesmo evitam (!!!) a crise, meus mais sinceros parabéns! Vocês são maduros, vocês são pés-no-chão, vocês são admiráveis!

4 comentários:

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  2. Dani, texto fantástico! Realmente ninguém nos prepara para isso (graças a Deus, tenho o melhor marido do mundo, que sempre se esforçou para entender meus hormônios), mas passei -e as vezes ainda passo- por essa confusão interna de Amor de mãe x vontade de fugir! Você conseguiu descrever com perfeição nesse texto. PARABENS! Sou sua fã!!!

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  3. Dani, texto fantástico! Realmente ninguém nos prepara para isso (graças a Deus, tenho o melhor marido do mundo, que sempre se esforçou para entender meus hormônios), mas passei -e as vezes ainda passo- por essa confusão interna de Amor de mãe x vontade de fugir! Você conseguiu descrever com perfeição nesse texto. PARABENS! Sou sua fã!!!

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